quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


                                          O ninho
Por Marianice Nucera Paupitz



Cuidando do meu jardim, me veio à mente o seguinte: estou só muito só, não há o que fazer, o universo parece maior, assim como a minha casa que abrigou muito tempo toda uma família, que enorme ela está?

Hoje a olho como um casarão;  diante dela sinto-me pequenina, uma vez que seus cômodos tornaram-se enormes.



Nunca me esqueço da frase, no dia que chegamos de lua de mel:

- Veja você! Cá estamos,  é nosso ninho de amor! Que frase mais providencial.

Hoje a olho e vejo que varias reformas, restaurações, ampliações foram feitas no decorrer do tempo, pois tivemos filhos e cada um merecia sua privacidade; fizemos com todo conforto  possível e cabível no nosso orçamento da época.

Mas um dia eles criaram asas, e cada qual foi viver sua vida em um novo ninho;  é a rotina milenar, porém  salutar.

Quando partimos,  também deixando os ninhos de nossos pais, nem passou pela nossa cabeça, que os estávamos deixando sozinhos,; era  o nosso destino que precisávamos seguir , e assim os filhos dos filhos,  sucessivamente.

Os percalços  da vida de casados, fizeram com que eu e ele, nós, casal,  nos  tornássemos   tão fortes que conseguíssemos  atravessar mais de quatro décadas, onde  alimentássemos  a amizade, a cumplicidade, a ternura, a segurança e os trancos e barrancos da instabilidade,  tanto emocional como financeira. A promessa feita na Igreja foi cumprida:

” Na riqueza, na pobreza, na  saúde e na doença...Até que a morte os separe”...

Olho para meu cúmplice e o vejo muito triste, seu sorriso só se abre , quando algum neto abre o portão e lhe dá um abraço, pelo menos uma vez por semana.

Tudo nesta vida passa,  tudo neste vale acontece, mas a solidão com a saída dos filhos chega. E pasmem! Outro dia peguei meu  carro, saí, fui a uma loja onde vendem  aquários, e, comprei um, junto com vários peixinhos coloridos, que lindinhos!

Quando  estou entrando na garagem, vejo meu marido chegando da caminhada com uma gaiola na mão, quando se aproxima, percebo que dentro há um pássaro, um papagaio a falar:

- Currupaco...currupaco...!

Olhamos um para outro e percebemos que os dogmas cristãos que dizem que a gente se torna um só no dia do casamento,  parece verdade, pois somos dois em um só e a solidão nos assola separadamente, que complicado!

Cada um resolveu matar a sua solidão, com animaizinhos de estimação.

É, agora sou eu quem diz:

_ Veja você! Estamos vivendo a “Síndrome do ninho vazio”!



segunda-feira, 26 de novembro de 2012



O Mistério


É invisível,


Mas  enlaça!


É salutar,


Mas  febril !


É imortal,


Mas morre!


É abrangente,


Mas  se isola!


É o primeiro,


É o ultimo,


É ortodoxo!


É infinito,


Mas se finda!


Não o entendem


Mas compreendem!


Não se justifica


Mas se afirma!


Sensível,


Mas forte!


É uma incógnita!


O sente a Anita


A Rita a Dita!


O João o Jose a Maria!


A saga de o viver


É como o nascer e o morrer!


O que é o que é ?


É o amor, que tudo vale,


Na terra no mar  e nos vales!





  




Por Marianice Paupitz Nucera

O      Segredo


O tesouro está no cofre,


Que  é da cor do ocre.


Eu nasci e cresci  chave,


Mas não consigo abrir,


Devo ter algum defeito.


Preciso ir à um chaveiro,


Mas antes, vou ao chuveiro


Tomar um banho ligeiro,


Pode ser que  alguma pena,


Mesmo sendo pequena,


Tenha  me sujado, e,


também   ao meu segredo,


Que cá  no cofre eu guardo,


Muito, muito a duras penas!


Do chuveiro já saí,


Não vejo sujeira alguma.


Agora, vou ao chaveiro


Que há de lixar sem dó,


Da garganta o grande nó!



O Tiro



Encantador

O sorriso da Dora

Que lá na feira da hora

Adora a cor da amora

Saliva-lhe a boca.

Mas, de repente

Sem precedente

O riso desaparece

Pois do externo

Caiu-lhe uma bala louca

Que andava por ali perdida!

domingo, 25 de novembro de 2012


Respeite meus cabelos brancos


Hoje já não os tenho, porque os tinjo, eu e muitas outras anciães que não perdem sua beleza,  não é porque estão em uma das últimas idades que se sentem feias, muito pelo contrario, são mulheres que realizadas vivem muito bem suas vidas, vendo os progressos dos filhos, netos genros e noras, para elas é como se  dissessem:

_Missão cumprida!

E assim no trilho sagrado da vida, elas caminham, eles também nossos jovens velhos, uns rançosos  as outros mais, mas sempre ali contando suas historias de vida que hoje são alicerces de sua sabedoria.

A vida só plantou em suas mentes experiências, que se os jovens tivessem paciência para ouvi-los, eles cometeriam muito menos erros devido a integridade das palavras proferidas pelos nossos conterrâneos velhos.

Há quem diga que velho já era, como estão enganados, se cada escritório, loja ou mesmo escola, tivesse um ente da terceira ou quarta idade, garanto a vocês que muita coisa ruim, que acontece nestes ambientes seria evitada, devido a prevenção de cada ancião, que marcado pela rotina vivida, sabe solucionar problemas  muito mais rápidos que qualquer jovem atual. Não estou dizendo fisicamente, mas suas palavras calmas e  sensatas farão com que todos pensem um pouco, sobre determinado assunto e o resolvam da melhor maneira possível, sem dar com os burros n’água, tendo que resolver novamente.

A sapiência do ser é o resultado de  muitos anos  de vida em qualquer setor  que exista no mundo, sua perspicácia, faz com que jamais cometerá erros do passado, tendo em vista ter aprendido muito bem a lição  de todo e qualquer acontecimento que na época lhe parecia um elefante branco.

Preocupa-me , o que acontecerá daqui a quinze ou vinte anos, com nossos velhos, principalmente porque as famílias numerosas estão diminuindo, da minha geração alguns ainda tem primos , tios, filhos irmãos,que poderão, no meu caso, quando estarei com oitenta e três anos me dar uma força, isto é se eu chegar até lá, que será de mim?

Posso observar que os nossos amigos, se apegam mais e mais a animais, isto é muito bom, pois além de leais, eles estão sempre em alerta, para qualquer acontecimento estranho, no decorrer do dia junto ao seu dono.

Não muito longe de meus olhos, um fato interessante se deu  num dia deste.

Um de nossos amigos também da nossa feliz idade, estava no seu cochilo da tarde, aquele sono dos justos, que todos merecem, quando de repente, acorda com o grito de seu animalzinho de estimação: Um papagaio:

_ Currupaco ! currupaco!  Seu |José! Seu José!

Percebe nosso amigo que estão tentando abrir seu portão,  e o seu amigo muito bem ensinado, sabe que não se entra em casa alheia sem ser anunciado.

Em segundos ele liga para as autoridades que rapidamente, chega e prendem os meliantes que estavam preparados para assalto a casa do velho senhor.

É nesta hora que a gente vê, quanto nos é importante uma companhia, se não um animal de estimação, algum cuidador que esteja sempre alerta.

A cada palavra de um ente já arqueado pelo tempo, ouvimos sempre a sensatez presente, vamos respeitar todo cabelo branco!



Ano que está por vir
Por Marianice Paupitz Nucera 

Ano Novo.                            

Reflexão.

 Objetivo: Viver Bem!!!

 Desejos realizações.  O que para alguns é sonho, para outros é pesadelo.

Os desejos são  de uma forma generalizada iguais, ninguém quer mais do que viver bem, dentro das possibilidades, alternando as prioridades, se defendendo das frustrações.

O ano  se repete, invenção do homem dividir o tempo: Horas, dias, semanas meses e anos.Questão de organização diriam os perfeccionistas .

Sem  a divisão inventada por alguém da humanidade, a seqüência seria natural, dia noite, amanhecer,anoitecer,sol ,chuva, inverno ,verão , outono ,primavera.

 Tudo muito normal, sem pressão sem ponteiros, sem calendários.

O ano, devido a uma organização mundial, está se acabando. A poucas horas de começar um novo, que como arvore  frondosa carregará em seu tronco e galhos  a humanidade.

Os humanos presos ao cosmo caminham como os astros celestes. Sendo que sua   vivencia na terra é perene, quando pensam estarem em  toda sua plenitude desaparecem  do universo.

 É a humanidade. Nasce cresce reproduz e morre,

O ano mais uma vez acaba, este está velhinho, cumpriu sua missão, agora o outro está por nascer, jovem, alegre, cheio de gás, de garra, de juventude. É a alvorada na curva do horizonte, querendo dar de tudo para uma vida boa de todos e para todos. O inicio da vida é isto, o início do ano também é este o retrato.

Dizer a todos o que se diz todo final e começo de ano, é fácil  por isto quero dizer o seguinte:

Um dia disse Deus: “Amai ao próximo como a  ti mesmo!”

E eu na minha modéstia sabedoria digo: Seja você o próximo! Entendeu?
Feliz Ano



Arbitrariedades



Em meus dias entras sem bater,

És como  o tempo, que passa  sem pedir licença.

O sorriso que na noite se abre é a estrela  

Que cadente ou não; brilha!


O espírito que vagueia em noites de luar,

De mãos dadas, com o  ar, sem o respirar

Em vão,  tenta achar seu derradeiro lugar.


No livre arbítrio da rotina vida, que vira

um desafio à desejada  liberdade,

Arbitrariedades entrelaçadas  fenecem,

na incessante procura da felicidade!


Utópico é o sonho da felicidade

Como também o da liberdade

Entre uma e outra, vem a solidão

Que num toque de oportunista

Faz de nossa alma sua estadia!


     A  RENDA

 

O brilho do querubim

Como a essência do jasmim,

Refletiu-se naquela renda

Que cobria toda a tenda!

 

Renda, não a planta portuguesa,

Mas aquela que a rendeira

Com carinho e   sutileza

Num ritmo musical, quase valsa,

 

Embala no dia a dia

Entre os dedos e os Bilros

A  enlevar fantasias!

 

Esta é a renda que fascina

E não aquela que assassina

Como o imposto de renda,

Que vem, vem e ALUCINA!

 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

                               O ERMITÃO
                                              


Certa vez um jornalista chegou a um vilarejo e soube que um bem sucedido comerciante, havia se mudado da cidade deixando família e quase toda  sua economia; saíra de casa apenas com a roupa do corpo e algum dinheiro para comprar um pequeno sítio, onde dali em diante passaria  a morar.
O jornalista, que estava à procura de peculiaridades, quis saber mais: por que um homem bem situado na vida toma uma atitude desta?
O comentário da pequena cidade, é que ele tinha tido uma decepção com algum fato ocorrido  dentro de sua família tão bem constituída, mas nada era muito bem explicado. O que se sabia é que o nosso amigo alimentava-se do que plantava, tomava banho em uma cachoeira e vivia numa solidão total, apenas com um cachorrinho vira-lata que havia encontrado no abandono.
A casa do pequeno sítio era bem modesta, flores do campo a seu redor ,um coqueiro e várias outras árvores frutíferas.
Toda tarde o nosso amigo se achegava junto a um rádio e ouvia a programação todinha até a hora de dormir.
Durante o dia, a partir do primeiro raio  solar, ele cuidava da plantação de onde tirava o seu sustento.
O jornalista chegou até o sítio do ermitão e lhe faz várias perguntas: por que uma atitude tão radical? Por que largar um lar todo estruturado e se embrenhar em um lugar senão deserto, mas desprovido de todo e qualquer conforto ao qual ele  estava acostumado?
O nosso comerciante olha bem fixamente ao entrevistador e,  após uma pitada,  diz:
_ Meu caro amigo, vou lhe contar mais ou menos o que aconteceu: Sou ou fui muito correto em todas as minhas atitudes, sempre visava  ao bem estar de minha mulher, filhos e agregados.
Um dia, quando aconteceu o  casamento da   filha de um amigo, eu percebi que o padre celebrante; olhava muito para mim e minha mulher, além de estar falando muito naquela cerimônia.Então, bem baixinho, eu  disse a minha cara companheira:
_ Como este padre olha prá gente, principalmente prá mim! Será que ele está querendo me dizer alguma coisa? A mulher mui discretamente respondeu:
_ Não se apoquente não, marido, ele é um padre muito legal! Há tempos atrás me confessei com ele.
_ O quê? mulher ...que diabos você confessou? Para que ele me olha tanto?
-Ah! Marido...  Nada demais.
Dali em diante, meu caro entrevistador, não tive mais sossego.A confiança que tinha em minha mulher acabou. Então para a desgraça não acontecer, resolvi me isolar.
Entendeu?



Marianice
           A Rosa e a beleza

A rosa, do galho com   espinho,
Amarela, vermelha ou branca
Enfeita  o jardim  ao lado do jasmim,
Que exala um perfume
Envolvendo-a com paixão

O galho, que tem espinho
Cisma  com aquele jasmim
E num espirro alucinante
Atinge então o envolvido
Expulsando-o do jardim

A fina flor que delicada
Se vê entre dois amores
Descabela-se arrancando
Todas suas  lindas pétalas

O jasmim e o espinho
Observando a flor desfeita
 Sentem que a beleza
É uma nuvem passageira!

Marianice Paupitz Nucera




 Herança



Tu és  sapateiro
Ensina a teu filho
O valor do couro
Ele guardará um pedaço...

Ourives tu és
Mostras a teu filho
O brilho do ouro
Ele  deterá  o 

Cortando o pano, ensinas
Alfaiate, a teu rebento
O valor do tecido
Ele guardará o retalho

O couro, o ouro, o retalho
Relíquias que no atalho
Da vida que surpreende,
Será a solução da dor
Do ser que se sente impotente!

Terceiro lugar em 2010/Concurso Osmair Zanardi
    Reflexo


Dobra-se uma pele,
outra, e mais outra,
é um plisse se formando.

Dobra-se um tecido,
uma, outra, e mais uma vez,
é uma saia de plissê!

Hoje no rosto as rugas,
resultado das rusgas.
No armário, o vestido
de plissê, pendurado.

No rosto as dobras,
                                                                   das cansadas sobras
de todas as suas obras
de um  tempo que se foi!

O vestido  de plissê
está no armário, empoeirado.
O rosto,  com pó de arroz,
está no espelho em plissê!

Poesia vencedora em 2º lugar do Concurso de Poesia (Osmair Zanardi) Academia Araçtubense de Letras (em 2009.)
                  Genocídio

A aura ali brilhante
De toda aquela infância
Era um  sol que reluzia !

A tarde não tardaria...

A chuva banhou a estrela
Que na manhã emergia!

Como pérola na ostra,
A nuvem negra escondia
Dentro dela sem agonia
Pingos de prata certeiros.

Almas caídas, feridas...

O estampido  pelos ares,
Da bala, que não era doce,
Era o grito do  insano
Que, louco, louco  com voz rouca
Dizia: Olha a chuva!!! Olha a chuva!

Poema inspirado na  tragédia de Realengo/RJ acontecido  há um ano