O ninho
Por Marianice Nucera Paupitz
Cuidando do meu jardim, me veio à
mente o seguinte: estou só muito só, não há o que fazer, o universo parece
maior, assim como a minha casa que abrigou muito tempo toda uma família, que
enorme ela está?
Hoje a olho como um casarão; diante dela sinto-me
pequenina, uma vez que seus cômodos tornaram-se enormes.
Nunca me esqueço da frase, no dia que chegamos de
lua de mel:
- Veja você! Cá estamos, é nosso ninho de amor! Que
frase mais providencial.
Hoje a olho e vejo que varias reformas, restaurações,
ampliações foram feitas no decorrer do tempo, pois tivemos filhos e cada um
merecia sua privacidade; fizemos com todo conforto possível e cabível no nosso orçamento da
época.
Mas um dia eles criaram asas, e cada qual foi viver
sua vida em um novo ninho; é a rotina milenar, porém salutar.
Quando partimos, também deixando os ninhos de nossos
pais, nem passou pela nossa cabeça, que os estávamos deixando sozinhos,; era o nosso destino que precisávamos
seguir , e assim os filhos dos filhos, sucessivamente.
Os percalços
da vida de casados, fizeram com que eu e ele, nós, casal, nos tornássemos tão fortes que conseguíssemos atravessar mais de
quatro décadas, onde alimentássemos a
amizade, a cumplicidade, a ternura, a segurança e os trancos e barrancos da instabilidade,
tanto emocional como financeira. A promessa feita na Igreja foi cumprida:
” Na riqueza, na pobreza, na saúde e na doença...Até que a morte os
separe”...
Olho para meu cúmplice e o vejo muito triste, seu
sorriso só se abre , quando algum neto abre o portão e lhe dá um abraço, pelo
menos uma vez por semana.
Tudo nesta vida passa, tudo neste vale acontece, mas a solidão com a
saída dos filhos chega. E pasmem! Outro dia peguei meu carro, saí, fui a uma loja onde vendem aquários, e, comprei um, junto com vários
peixinhos coloridos, que lindinhos!
Quando estou
entrando na garagem, vejo meu marido chegando da caminhada com uma gaiola na
mão, quando se aproxima, percebo que dentro há um pássaro, um papagaio a falar:
- Currupaco...currupaco...!
Olhamos um para outro e percebemos que os dogmas
cristãos que dizem que a gente se torna um só no dia do casamento, parece verdade, pois somos dois em um só e a
solidão nos assola separadamente, que complicado!
Cada um resolveu matar a sua solidão, com
animaizinhos de estimação.
É, agora sou eu quem diz:
_ Veja você! Estamos vivendo a “Síndrome do ninho vazio”!