quinta-feira, 5 de abril de 2012

                               O ERMITÃO
                                              


Certa vez um jornalista chegou a um vilarejo e soube que um bem sucedido comerciante, havia se mudado da cidade deixando família e quase toda  sua economia; saíra de casa apenas com a roupa do corpo e algum dinheiro para comprar um pequeno sítio, onde dali em diante passaria  a morar.
O jornalista, que estava à procura de peculiaridades, quis saber mais: por que um homem bem situado na vida toma uma atitude desta?
O comentário da pequena cidade, é que ele tinha tido uma decepção com algum fato ocorrido  dentro de sua família tão bem constituída, mas nada era muito bem explicado. O que se sabia é que o nosso amigo alimentava-se do que plantava, tomava banho em uma cachoeira e vivia numa solidão total, apenas com um cachorrinho vira-lata que havia encontrado no abandono.
A casa do pequeno sítio era bem modesta, flores do campo a seu redor ,um coqueiro e várias outras árvores frutíferas.
Toda tarde o nosso amigo se achegava junto a um rádio e ouvia a programação todinha até a hora de dormir.
Durante o dia, a partir do primeiro raio  solar, ele cuidava da plantação de onde tirava o seu sustento.
O jornalista chegou até o sítio do ermitão e lhe faz várias perguntas: por que uma atitude tão radical? Por que largar um lar todo estruturado e se embrenhar em um lugar senão deserto, mas desprovido de todo e qualquer conforto ao qual ele  estava acostumado?
O nosso comerciante olha bem fixamente ao entrevistador e,  após uma pitada,  diz:
_ Meu caro amigo, vou lhe contar mais ou menos o que aconteceu: Sou ou fui muito correto em todas as minhas atitudes, sempre visava  ao bem estar de minha mulher, filhos e agregados.
Um dia, quando aconteceu o  casamento da   filha de um amigo, eu percebi que o padre celebrante; olhava muito para mim e minha mulher, além de estar falando muito naquela cerimônia.Então, bem baixinho, eu  disse a minha cara companheira:
_ Como este padre olha prá gente, principalmente prá mim! Será que ele está querendo me dizer alguma coisa? A mulher mui discretamente respondeu:
_ Não se apoquente não, marido, ele é um padre muito legal! Há tempos atrás me confessei com ele.
_ O quê? mulher ...que diabos você confessou? Para que ele me olha tanto?
-Ah! Marido...  Nada demais.
Dali em diante, meu caro entrevistador, não tive mais sossego.A confiança que tinha em minha mulher acabou. Então para a desgraça não acontecer, resolvi me isolar.
Entendeu?



Marianice
           A Rosa e a beleza

A rosa, do galho com   espinho,
Amarela, vermelha ou branca
Enfeita  o jardim  ao lado do jasmim,
Que exala um perfume
Envolvendo-a com paixão

O galho, que tem espinho
Cisma  com aquele jasmim
E num espirro alucinante
Atinge então o envolvido
Expulsando-o do jardim

A fina flor que delicada
Se vê entre dois amores
Descabela-se arrancando
Todas suas  lindas pétalas

O jasmim e o espinho
Observando a flor desfeita
 Sentem que a beleza
É uma nuvem passageira!

Marianice Paupitz Nucera




 Herança



Tu és  sapateiro
Ensina a teu filho
O valor do couro
Ele guardará um pedaço...

Ourives tu és
Mostras a teu filho
O brilho do ouro
Ele  deterá  o 

Cortando o pano, ensinas
Alfaiate, a teu rebento
O valor do tecido
Ele guardará o retalho

O couro, o ouro, o retalho
Relíquias que no atalho
Da vida que surpreende,
Será a solução da dor
Do ser que se sente impotente!

Terceiro lugar em 2010/Concurso Osmair Zanardi
    Reflexo


Dobra-se uma pele,
outra, e mais outra,
é um plisse se formando.

Dobra-se um tecido,
uma, outra, e mais uma vez,
é uma saia de plissê!

Hoje no rosto as rugas,
resultado das rusgas.
No armário, o vestido
de plissê, pendurado.

No rosto as dobras,
                                                                   das cansadas sobras
de todas as suas obras
de um  tempo que se foi!

O vestido  de plissê
está no armário, empoeirado.
O rosto,  com pó de arroz,
está no espelho em plissê!

Poesia vencedora em 2º lugar do Concurso de Poesia (Osmair Zanardi) Academia Araçtubense de Letras (em 2009.)
                  Genocídio

A aura ali brilhante
De toda aquela infância
Era um  sol que reluzia !

A tarde não tardaria...

A chuva banhou a estrela
Que na manhã emergia!

Como pérola na ostra,
A nuvem negra escondia
Dentro dela sem agonia
Pingos de prata certeiros.

Almas caídas, feridas...

O estampido  pelos ares,
Da bala, que não era doce,
Era o grito do  insano
Que, louco, louco  com voz rouca
Dizia: Olha a chuva!!! Olha a chuva!

Poema inspirado na  tragédia de Realengo/RJ acontecido  há um ano