sexta-feira, 14 de junho de 2013

A inconsciente.

                                                 
Por Marianice Paupitz Nucera


                                  
 Inicio de semana, segunda feira, o tráfego  dos carros é pasmoso; nas calçadas crianças,  se acotovelando. É o quarteirão da escola, bicicletas, motos, tudo numa corrida incessante, o horário está em cima, tudo tem que ser muito rápido, todos decidiram sair de casa na mesma hora, é o rush, o pico, a insensatez da competição. De um jeito ou de outro se chega onde se quer. Um grupo de idosos caminha em uma calçada felizes da vida,  estão se dirigindo a um supermercado onde acontece à ginástica do Bem Estar, estão se prevenindo para uma velhice feliz.
                                  Naquela manhã, de tudo se vê, gente, cachorros.
                                  É o contraste da rotina diária, a felicidade por se estar fazendo o que se gosta (os idosos) e o resto da humanidade,  naquele momento,  a procura de um lugar ao sol. Ouve-se um grito:
                               -Creio em ti! Uma voz rouca  emerge de uma boca louca, de alguém que caminha  na ruidosa avenida;  ela vem como se não visse nada. Seu sorriso é inexistente, sua tez é alienada, não dá para notar naquele rosto nenhum sinal de sentimento.
                               É uma máquina andante, um robô cibernético, uma visão tenebrosa. Não se altera, quando os transeuntes a olham espantados.
            De onde surgiu aquela alma, sem definição, sem perspectiva sem destino, o que a torna tão ausente da humanidade?
                               Que humanidade é esta? Nada a faz parar, de chumbo são seus passos lentos, seu olhar não tem destino certo, é um piscar constante. Sua cabeça é como um carrossel descontrolado que gira sem noção.

                               Os braços caídos ao longo dos ombros são enormes e pesados, os longos cabelos sem uma cor definida esvoaçam com a lambida do vento.
                                Seus pequenos pés, de longe delicados, se arrastam como a puxar ou carregar algumas toneladas de desamor.
                                Quem é? De onde surgiu ou saiu tão indecifrável criatura?
                                A caminhada continua, ela não sente a presença dos carros que buzinam para evitar um atropelamento, pois ela atravessa a avenida, como se a mesma fosse deserta.
                                Ninguém se atreve a chegar até ela, pois aos olhos mundanos vê-se que está envolta por uma redoma.
                                Não há o que falar os olhos do povo que passa apenas olham e se angustiam , por nada poder fazer; é um fardo andante. Sem rumo, sem eira, nem se sabe se procura uma beira.
                    A avenida foi atravessada pela misteriosa transeunte, seus olhos frios se fixam em uma catedral da praça que surge no final da rua.
                    Para, olha para o nada, se descabela,  se joga ao chão, agora afloram os sentimentos engolidos durante quem sabe uma vida toda, e num gesto tresloucado, levanta do quente chão,  sai a correr entrando na igreja, não porque iria para  lá, mas ali entrou porque a porta estava aberta.
                    Ajoelha-se em um dos bancos, continua com o frio olhar para o nada,  vira a cabeça de um lado para o outro,  tira do seio branco e grita:
-Creio em ti!  E em seguida enxuga as lágrimas que lhe encharcam o negro rosto!


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