Por Marianice Paupitz Nucera
Inicio de semana, segunda feira, o tráfego dos carros é pasmoso; nas
calçadas crianças, se acotovelando. É o quarteirão da escola, bicicletas,
motos, tudo numa corrida incessante, o horário está em cima, tudo tem que ser
muito rápido, todos decidiram sair de casa na mesma hora, é o rush, o pico, a
insensatez da competição. De um jeito ou de outro se chega onde se quer. Um
grupo de idosos caminha em uma calçada felizes da vida, estão se
dirigindo a um supermercado onde acontece à ginástica do Bem Estar, estão se
prevenindo para uma velhice feliz.
Naquela manhã, de tudo se vê, gente, cachorros.
É o contraste da rotina diária, a felicidade por se estar fazendo o que se
gosta (os idosos) e o resto da humanidade, naquele momento, a
procura de um lugar ao sol. Ouve-se um grito:
-Creio em ti! Uma voz rouca emerge de uma boca louca, de alguém que
caminha na ruidosa avenida; ela vem como se não visse nada. Seu
sorriso é inexistente, sua tez é alienada, não dá para notar naquele rosto
nenhum sinal de sentimento.
É uma máquina andante, um robô cibernético, uma visão tenebrosa. Não se altera,
quando os transeuntes a olham espantados.
De onde surgiu aquela alma, sem definição, sem perspectiva sem destino, o que a
torna tão ausente da humanidade?
Que humanidade é esta? Nada a faz parar, de chumbo são seus passos lentos, seu
olhar não tem destino certo, é um piscar constante. Sua cabeça é como um
carrossel descontrolado que gira sem noção.
Os
braços caídos ao longo dos ombros são enormes e pesados, os longos cabelos sem
uma cor definida esvoaçam com a lambida do vento.
Seus pequenos pés, de longe delicados, se arrastam como a puxar ou
carregar algumas toneladas de desamor.
Quem é? De onde surgiu ou saiu tão indecifrável criatura?
A caminhada continua, ela não sente a presença dos carros que buzinam para
evitar um atropelamento, pois ela atravessa a avenida, como se a mesma fosse
deserta.
Ninguém se atreve a chegar até ela, pois aos olhos mundanos vê-se que está
envolta por uma redoma.
Não há o que falar os olhos do povo que passa apenas olham e se angustiam , por
nada poder fazer; é um fardo andante. Sem rumo, sem eira, nem se sabe se
procura uma beira.
A avenida foi atravessada pela misteriosa transeunte, seus olhos frios se fixam
em uma catedral da praça que surge no final da rua.
Para, olha para o nada, se descabela, se joga ao chão, agora afloram os
sentimentos engolidos durante quem sabe uma vida toda, e num gesto tresloucado,
levanta do quente chão, sai a correr entrando na igreja, não porque iria
para lá, mas ali entrou porque a porta estava aberta.
Ajoelha-se em um dos bancos, continua com o frio olhar para o nada, vira
a cabeça de um lado para o outro, tira do seio branco e grita:
-Creio
em ti! E em seguida enxuga as lágrimas que lhe encharcam o negro rosto!
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