domingo, 23 de junho de 2013

O vício


A bicicleta vai devagar, um ser a dirige, como em alfa, parece levitar, o trânsito está um caos, mas o ciclista não entra naquele movimento, sua alma esta enlevada, esta é a impressão que passa.
Rapidamente, uma moto o ultrapassa, um ônibus, um carro, enfim, todos os veículos que costumam transitar por aquela avenida e, ele, introspectivo, não se envolve com o horário de pico.
O sol desponta-se no horizonte longínquo, iluminando aquela manhã, seus raios são verdadeiros fios de ouro, que como colares ornamentam o amanhecer caótico.

A bicicleta segue seu caminho, seus pneus tesos, sua corrente aguenta as pedaladas de um ser que visivelmente está completamente alienado, parece que alguém o conduz, tal é a sua indiferença a todo aquele movimento.

De repente, uma ambulância pedindo passagem, ele continua a sua peregrinação, apenas se afasta, como todos os carros, para dar passagem à transportadora de enfermos, suas pernas continuam a pedalar, agora chega a uma elevação que mais parece uma montanha, mas ele, firme, a transpõe.

Atravessa várias ruas que transversalmente cruzam a avenida , o suor em seu rosto brota, mas ele não percebe nada.

Passa um bairro, outro e mas outro, o trânsito diminui, o horário de pico também,e ele, com todo seu vigor, continua seu caminho.

Mais concentrado ainda, segue. Aquela pessoa franzina, cabelos negros que teimam em sair debaixo do boné surrado, suas botas de peão de construção civil gastas, a blusa de frio já surrada, barba por fazer, seu destino deveria ser uma construção.

É o que deduzem, mas num repente, ele sai da avenida e pega uma estrada vicinal. toda de terra, não há sombra de asfalto, mas a estrada está deserta, apenas algum gado pastando a sua beira. continua a sua jornada, para ele não interessa nada que ao redor está, quer chegar ao seu destino, logo de manhã  o mais urgente possível. Sua meta é chegar e chegar.

De repente, uma porteira se abre, ele continua a pedalar, até que alguém o recebe, ele muito rapidamente se acomoda nos fundos daquela casa de sapê, uma residencia rústica, campestre, alguém lhe traz algo que ele ansiosamente toma nas mãos, com um gesto rápido tira do bolso um isqueiro, acendendo aquele CACHIMBO DE  CRACK.


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